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Charles Bukowski: Resistência e Amor

Sinapses Esparsas [Solidão] pelo Editor

"Cheguei à solidão inteira, aquela que não pede licença. A solidão da solidão. Essa história de solitude nunca me convenceu; sempre me soou assim como um jeito educado de não encarar o buraco. Solidão é estar sozinho e nem sentir a própria presença. É existir e não se ouvir. É o estrondo mudo do absurdo". [Opinão do Editor]

A Solidão em Kierkegaard

Kierkegaard olha a solidão como quem encara um espelho que não devolve conforto, mas verdade. Ele a entende como a província secreta onde o indivíduo abandona máscaras, grupos, pertencimentos ilusórios e se vê obrigado a responder pela própria existência. A solidão não é isolamento social nem retração melancólica, é a zona onde o eu se torna transparente para si mesmo. É nesse silêncio radical que surge a angústia, companheira feroz e lúcida, que mostra a falta de garantias na vida e revela que a liberdade pesa. Kierkegaard não romantiza esse desamparo. Ele o descreve com uma nitidez desconfortável, mas necessária, porque só ali o indivíduo desperta para sua própria interioridade.

Ele propõe que a solidão é a oficina onde se forja a autenticidade. O eu só se torna eu quando suporta o choque entre o que é e o que deveria ser. O dinamarquês insiste que ninguém pode fazer esse trajeto pelo outro. Cada pessoa precisa executar esse salto interior de modo solitário, enfrentando o paradoxo entre finitude e infinitude. A solidão kierkegaardiana funciona como uma depuração existencial: quando o ruído do mundo some, o indivíduo percebe que não pode terceirizar a tarefa de existir. É ali que se experimenta o chamado do dever-ser, aquilo que ele nomeia como a exigência ética de tornar-se si mesmo, não por vaidade, mas por fidelidade ao próprio espírito.

No ponto mais profundo dessa travessia, Kierkegaard afirma que a solidão abre o espaço onde o indivíduo encontra o Absoluto. Não se trata de religião institucional, mas da experiência interior de uma relação direta com a transcendência, livre de intermediários. A solidão, então, transforma-se em lugar de recolhimento, confronto e aliança. Ela não é castigo nem destino trágico. É o palco íntimo onde se desenrola a mais alta tarefa humana: assumir a própria existência diante de Deus, diante do mundo e diante de si mesmo. Kierkegaard entrega a solidão não como um buraco escuro, mas como uma câmara de eco espiritual onde o eu aprende a ouvir sua própria verdade.

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