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O retrato [Adélia Prado]
O retrato de Adélia Prado se constrói como um pequeno ícone doméstico onde a memória arde em silêncio. A imagem capturada carrega o peso de um instante que parece banal, mas que se transforma em revelação. Os olhos cheios d’água sob as lentes não são mero detalhe descritivo. São o centro irradiador do poema e instauram uma zona de comoção que ultrapassa a fotografia e entra na vida. A poeta deseja a imagem como quem deseja um objeto sagrado, consciente de que ali pulsa algo irrepetível, uma verdade do íntimo que a câmera, por acaso, colheu.
O poema aciona uma reflexão delicada sobre a ambiguidade dos ritos. O casamento, festa luminosa por excelência, aparece atravessado por uma sombra de percepção. No braço dado com a filha há um gesto socialmente reconhecível, mas no passo guardado há outra camada, secreta, quase inaudível. É esse intervalo entre o público e o íntimo que Adélia transforma em matéria poética. A pergunta que o homem formula consigo mesmo, se a vida é amarga e doce, abre um abismo. É a consciência súbita de que toda celebração carrega um nervo de perda, um lampejo de mortalidade, uma fresta onde entra a lucidez.
A poeta deseja, reiteradamente, olhar o retrato para reencontrar o que ele contém de frágil e de bravo. O homem chorava porque intuía o preço da vida, sua doçura provisória e sua amargura permanente. Chorar ao olhar a foto é uma forma de honrar essa coragem, não como espetáculo sentimental, mas como reconhecimento. O retrato se torna um espelho ético, uma talha silenciosa do humano, onde dor e aceitação se equilibram num mesmo gesto. Adélia conclui com a repetição dos olhos cheios d’água sob as lentes, insistindo na ideia de que o essencial não é o que se mostra, mas aquilo que transborda.
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