Pular para o conteúdo principal

HUB Destaques

Emil Cioran, em "Précis de décomposition" [Breviário de Decomposição, 1949]

Rachmaninoff: Piano Concerto No.2: II. Adagio sostenuto | Yuja Wang, piano | maestro Gustavo Dudamel [LA Philharmonic]

 

Yuja Wang entra no Adagio sostenuto com uma delicadeza que parece vidro soprado. Nada de sentimentalismo derramado. Ela trabalha com uma respiração alongada, firme, como quem conhece a tradição russa de dentro para fora, mas não tem medo de imprimir seu próprio pulso contemporâneo. Cada arpejo cai no ouvido como uma lembrança antiga que a gente só reconhece quando já passou.

Dudamel, por sua vez, conduz a LA Phil com o tipo de elegância que se aprende mais com Silvio Barbato do que com a escola hollywoodiana: ele não estufa o peito, não faz pose, apenas sustenta o clima como um manto. Os violinos entram com aquele brilho típico da orquestra de Los Angeles, mas aqui sem excesso de verniz. Há calor, textura, aquela sensação de que o tempo desacelera para deixar o segundo movimento respirar sozinho.

O diálogo entre piano e orquestra é o verdadeiro achado dessa leitura. Não há disputa, não há teatro. Há uma conversa íntima em que Yuja parece sussurrar e Dudamel responde em voz baixa. E quando ela se permite expandir o fraseado, a orquestra abre espaço como quem segura a porta para uma dama atravessar um corredor de memórias românticas.

Tecnicamente, tudo funciona. Mas o que importa mesmo é a impressão final: esta interpretação captura o espírito do Adagio não como melancolia, mas como uma esperança calma, quase madura. Um Rachmaninoff menos nervoso e mais contemplativo, como se o próprio compositor tivesse encontrado uma maneira de serenar depois de tantas tempestades internas.

Comentários

Mais Lidas