Pesquisar este blog
Capital Cultural | Consultoria | Mentoria | Alta Cultura | Criatividade | Estratégia | Mundo Corporativo | Consumo Alto Padrão | Gestão de Capital Simbólico | Gestão de Crise de Imagem | Ghost-Writer | Palestrante
HUB Destaques
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Drummond, "O Homem; As Viagens..." [com resenha do Editor]
Drummond, "O Homem; As Viagens..."
Drummond enxergou antes de todos nós esse homem inquieto, cansado de si, condenado a fugir para a frente. O poema começa com ironia seca. O homem é “bicho da Terra tão pequeno”, mas armado de máquinas, foguetes e ambições cósmicas. Cada verbo é um degrau dessa escalada tecnológica que parece grandiosa, mas carrega no miolo um tédio ancestral. Ele pisa a Lua, experimenta a Lua, civiliza a Lua. A sequência rítmica, repetitiva, quase burocrática, desmonta a aura épica da conquista espacial. A Lua acaba igual à Terra, humanizada, portanto banalizada. Drummond arranca o heroísmo e revela a engrenagem íntima: o homem foge porque não sabe permanecer.
O movimento se repete em Marte. O poema vira uma espiral de expansão sem sentido, uma marcha imperial que tenta converter o universo inteiro em cópia ampliada daquilo que já o aborrece. É sátira, mas também lamento. A tecnologia cresce, mas o homem não muda. A cada planeta conquistado, volta o gosto insosso do mesmo. Ele humaniza tudo com zelo, mas não se humaniza. Drummond critica a obsessão de transformar o cosmos em espelho, como se a repetição do gesto técnico resolvesse a miséria afetiva que o poema denuncia no início: pouca festa, pouca alegria, muita fadiga existencial.
O desfecho é o golpe mais fino. Depois de dominar planetas, estrelas e sistemas, o homem descobre que a viagem mais arriscada e complexa é para dentro. A metáfora espacial vira introspecção. Drummond troca a cápsula pelo coração. O verdadeiro território inexplorado é o próprio sujeito, suas sombras, seus afetos, suas resistências. Ao invés da grandiloquência sideral, vem uma epifania simples: a alegria de conviver. O poema pousa nessa palavra com o peso de uma revelação. Drummond sugere que o homem, tão empenhado em colonizar o universo, nunca ousou colonizar a si mesmo. E é aí que a aventura ganha sentido. A perene alegria não está na expansão, mas no retorno. Não está no espaço exterior, mas no espaço íntimo que sempre adiamos explorar.
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Mais Lidas
Capital Cultural: a Moeda Silenciosa do Prestígio
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
.jpeg)
Comentários