Grande Momento do Maestro Klaus Mäkelä - Also Sprach Zarathustra, Op. 30
A abertura de Also sprach Zarathustra costuma ser tratada como um monumento intocável, mas Mäkelä recusa a tentação do gigantismo fácil. Ele começa com um ataque limpo, quase clínico, deixando o famoso acorde ascender como uma lâmina de luz. Nada de exagero, nada de gordura sonora. A Oslo responde com disciplina e brilho, especialmente nos metais, que mantêm o tema solar com autoridade e sem espalhafato.
À medida que a obra se desdobra, Mäkelä privilegia a clareza estrutural. Ele não transforma Strauss em ópera sinfônica, como tantos maestros fazem; ele o devolve ao domínio filosófico, onde as linhas são ideias e não enfeites. O resultado é uma leitura moderna, transparente, onde cada motivo aparece como uma pergunta que a orquestra tenta responder. As cordas mantêm um calor contido, quase camerístico. As madeiras brilham com aquela precisão nórdica que combina com o gesto do maestro.
O ponto mais forte está na maneira como Mäkelä conduz a relação entre tensão e suspensão. Ele parece entender que Strauss não escreve apenas cores, mas conflitos internos de pensamento. Von der Wissenschaft surge analítico, seco, sem caricatura. Já Der Genesende respira com amplitude, deixando a orquestra abrir espaço para um renascimento sonoro que chega sem pompa, apenas com inevitabilidade.
O final, elusivo por natureza, encontra em Mäkelä o equilíbrio perfeito. Ele não tenta resolver o irresolúvel. Apenas coloca luz e sombra em diálogo, deixando o célebre Si grave desaparecer com uma honestidade quase cruel. É Strauss como filosofia posta em som.
Foi uma leitura afiada, madura e sem vaidade. Klaus Mäkelä mostrou que não precisa inflar Strauss para engrandecê-lo. Ele apenas revela o que já está lá: luz, dúvida, afirmação e silêncio. Encontro raro entre precisão e espírito.
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