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A Moral como Sentimento: A Revolução de David Hume [do Editor]

Créditos: Livre Web A crítica de David Hume ao racionalismo moral representa uma das suas contribuições filosóficas mais radicais e duradouras. Ela se ergue sobre a distinção intransponível entre o domínio do que é e o domínio do que deve ser. Hume argumenta que a razão, em seu exercício legítimo, apenas descobre relações entre ideias, como na matemática, ou questões de fato, como nas ciências naturais. No entanto, quando declaramos uma ação "boa" ou "má", não estamos reportando um fato objetivo no mundo, nem deduzindo uma verdade lógica. Estamos, na realidade, expressando um sentimento de aprovação ou desaprovação que brota de nossa constituição emocional. Por esse prisma, a razão é perfeitamente incapaz, por si só, de nos mover à ação ou de fundar qualquer obrigação moral. O cerne da ética humeana, portanto, desloca-se da esfera do intelecto para a esfera do sentimento. O principal conceito que ele mobiliza para explicar a origem dos juízos morais é a simpatia. En...

As Quatro Estações de Vivaldi: na Sinfonia a Eternidade do Momento [do Editor]



Viver não é caminhar rumo a uma conclusão. A vida não tem clímax, desfecho ou epílogo definidos como num romance mal escrito. Tudo que existe está contido no instante que se vive. O erro maior é imaginar que o sentido da existência repousa em algum ponto à frente, algo a ser alcançado depois de muito esforço, como se o viver fosse uma longa espera por um momento de consagração que justificaria toda a dor. Mas esse momento nunca vem. Porque ele não existe fora do agora. A esperança mal direcionada transforma o tempo num tirano, e a alma numa prisioneira da expectativa.

O ser humano moderno, educado para correr, acostumado a medir a vida por metas e resultados, esqueceu o que é estar. Estar inteiro. Estar sem cálculo. Estar sem necessidade de provar nada. Confundiu ocupação com plenitude, meta com sentido, performance com existência. O mundo transformou-se num teatro onde se atua sem fim, e o público, distraído, já nem percebe a beleza do gesto simples, da fala espontânea, do silêncio sincero. A pressa destruiu o tempo interior. A ansiedade pelo depois corrompeu o agora.

A música oferece uma imagem clara do que é viver. Não se ouve uma sinfonia para chegar à última nota, assim como não se respira para alcançar o último suspiro. O valor está no som em si, no momento em que vibra. Quando escutamos As Quatro Estações, de Vivaldi, não esperamos que o inverno chegue logo, nem que o verão acabe depressa. Cada movimento é um mundo, completo em si. O ouvinte atento sabe que a beleza está no percurso, não no fim.

A vida pede exatamente essa escuta. Uma escuta que não busca o fim, mas a presença. Uma escuta que não analisa, mas participa. A música não se justifica. Ela é. E assim também deveria ser o viver. Um fluxo de momentos que não exigem finalidade, mas inteireza. Uma dança que não conduz a um ponto fixo, mas que se basta no gesto do movimento.

Talvez devêssemos reaprender com as crianças, os poetas e os músicos. Eles sabem habitar o momento como se fosse tudo. Não perguntam para quê serve a flor ou o riso. Simplesmente vivem. Não esperam o fim da dança. Estão dentro dela. E isso basta. Porque não há final. Há variações contínuas de uma mesma melodia. E em cada nota, se escutarmos bem, já está o todo.

Tudo o que é verdadeiro pulsa no tempo presente. Não é promessa. É vibração. A vida é agora. Inteira. Simples. Inadiável. Como uma sonata que se desvela nota por nota. Como Vivaldi, que nos ensinou que o tempo pode ser sentido com os ouvidos.

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