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Só os profetas enxergam o Óbvio - Uma resenha literária [do Editor]
Funciona como porta de entrada para quem nunca leu Nelson e como reencontro saboroso para quem já conhece seu teatro e sua prosa. A sensação final é clara.
OPINIÃO PUBLICADA
Saulo Carvalho
12/17/20252 min ler


Este livro é um mergulho direto no universo moral, cômico e trágico de Nelson Rodrigues. André Seffrin organiza aqui não apenas um conjunto de frases célebres, mas um pequeno mapa da alma rodriguiana, esse território onde a vida humana aparece sem maquiagem, sem pudor e com um humor que só funciona porque toca no ponto sensível. É um panorama construído pelo ridículo e pelo espanto, pelo sarcasmo e pela ternura escondida, exatamente como Nelson escrevia.
As máximas reunidas em Só os profetas enxergam o óbvio não envelhecem porque tratam de obsessões permanentes. A família, o desejo, a moral pública, o ressentimento, a hipocrisia cotidiana. Tudo surge com a precisão de quem vê o que ninguém quer admitir. Em meio a essas observações, uma se impõe pela atualidade quase dolorosa, a ideia de que a paixão política é a única paixão sem grandeza. Essa sentença ilumina a energia moral de Nelson, sempre desconfiado dos arroubos coletivos e sempre atento à vaidade disfarçada de virtude.
Por isso o livro vai além de uma coletânea de frases memoráveis. Ele apresenta um retrato rápido, porém denso, de um autor que permanece atual justamente porque continua incômodo. Suas observações são ácidas, divertidas, proféticas e frequentemente espantosas. Ele lança verdades como se fossem paradoxos e desmonta pretensões com a naturalidade de quem aponta o óbvio que estava diante de todos. Carlos Heitor Cony dizia que Nelson é, de longe, o maior fabricante de bordões da nossa literatura. O livro confirma isso em cada página. É impressionante como tudo parece escrito ontem. É ainda mais impressionante como tudo serve para o Brasil de agora.
O resultado é um volume acessível, mas nada leve. Funciona como porta de entrada para quem nunca leu Nelson e como reencontro saboroso para quem já conhece seu teatro e sua prosa. A sensação final é clara. Nelson continua nos desafiando. Ele diz aquilo que evitamos pensar e ri antes para que o leitor ria depois, quase sempre de si mesmo.
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