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O Muro dos Privilégios: o Impasse Brasileiro [Opinião do Editor]
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| Domínio Público |
Os números mostram que esse modelo não se sustenta mais. No lançamento do novo arcabouço fiscal, o governo projetava uma dívida bruta de 77% do PIB em 2026, mesmo no cenário pessimista. Agora a previsão é de 84%. Para 2025, projetaram superávit primário de 0,5%; teremos déficit de 0,5%. Os juros, que deveriam estar caindo, só sobem. Com taxa real acima de 7% e recursos parafiscais espalhados que não aparecem no resultado primário, o ajuste necessário ultrapassa 5% do PIB. Isso significa, em ordem de grandeza, cortar 70% dos benefícios previdenciários. Politicamente impossível. Portanto, a dívida seguirá crescendo por anos, até o limite de tolerância dos financiadores. E há sempre um limite, ainda que ninguém saiba exatamente onde está.
Chegará o momento em que interesses privados terão de ceder para produzir um benefício público maior: estabilidade macroeconômica. Mas não vemos maturidade social para isso. No Brasil, mudanças profundas quase sempre surgem empurradas por crises severas, como as de 2015 e 2016. Não precisava ser assim. No século XIX, Estados Unidos e Reino Unido enfrentavam problemas semelhantes aos do Brasil de hoje: corrupção, nepotismo, protecionismo, saneamento precário. Avançaram porque empreenderam reformas institucionais sérias, contínuas e de longo prazo: políticas antitruste, combate ao nepotismo, leis anticorrupção, modernização sanitária, expansão da escola pública, melhoria da segurança. Nada de teoria vazia, e sim política pública que alcança a vida comum do cidadão.
O Brasil também tem histórias de sucesso: o agronegócio, a computação, diversas áreas de pesquisa científica. Em todas elas há um padrão claro: investimento em pessoas, conhecimento de fronteira, abertura ao exterior, competição real, ambição global. Mesmo assim, continuamos copiando o que não funciona, como protecionismo industrial, e ignorando o que funciona com evidência empírica.
Crises ajudam, mas não resolvem por si mesmas. A de 2015 derrubou um governo e abriu espaço para reformas como o teto de gastos. Porém, assim que a economia deu os primeiros sinais de recuperação, o senso de urgência evaporou. Cada grupo voltou a defender seu quinhão. O teto de gastos foi furado e morreu. Para mudar de verdade, é necessária concertação nacional. Lideranças políticas, empresariais e sociais sentando à mesa, encarando os números e convencendo o país de que o caminho atual não fecha. Até agora, isso não aconteceu.
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