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O Brasil e a Realidade Escandalosa dos Supersalários [Do Editor]

Página do Jornal O Estado de São Paulo

O Brasil se acostumou a viver numa suposta naturalidade escandalosa dos supersalários. Tudo soa normal, rotineiro, quase doméstico. A manchete grita ultraje, mas o país escuta como quem ouve o barulho do ventilador: faz parte da casa. Essa banalização do absurdo é o que sustenta o padrão que se reinstala sempre que a temperatura baixa. As corporações públicas se protegem, defendem seus privilégios como se fossem cláusulas pétreas da própria identidade. E a sociedade, fraturada em seus pequenos feudos, aceita o enredo como destino, não como escolha.

A ausência de musculatura coletiva se revela justamente nisso. Na incapacidade de reagir ao escândalo repetido. No torpor diante dos números que deveriam envergonhar qualquer nação madura. A cada nova denúncia, a reação popular se dissolve antes de ganhar corpo. O país respira um pouco, a economia sinaliza melhora, e pronto: o impulso de mudança evapora. A acomodação é reencontro, é porto seguro, é tradição. O velho padrão retorna sem esforço, como se tivesse apenas ido buscar um café. Cada grupo vira guardião do seu quinhão, e qualquer tentativa de reforma vira um terremoto proibido.

Assim, os supersalários não são só cifras indecentes. São o sintoma perfeito de um país que aprendeu a conviver .com o seu próprio colapso moral como se fosse estilo de vida. Enquanto isso, a dívida sobe, a desigualdade se consolida, o futuro permanece suspenso como um sinal amarelo eterno. E a elite estatal predatória avança amparada pelo silêncio cúmplice de uma sociedade que já não distingue abuso de hábito. Como quem aceita o ultraje porque o ultraje parece parte da paisagem

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