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Viva Dom Pedro II - Uma Reflexão Republicana

O feriado de 15 de novembro sempre chega como uma data que tenta soar cívica, mas que para mim carrega um silêncio desconfortável. Sou republicano, acredito na alternância de poder e no funcionamento áspero e necessário das instituições. Defendo a ideia de um Estado sustentado pelo pacto entre iguais, mas não consigo celebrar a proclamação da República.

Ela não nasceu de um impulso popular nem de um desejo coletivo. Nasceu de uma quartelada feita às pressas, no escuro da madrugada, sem povo nas ruas e sem qualquer consulta aos cidadãos. Era um constitucionalismo de época, limitado, imperial e possível dentro do seu tempo, e mesmo assim foi rompido por um golpe militar que arrancou Dom Pedro II do trono, embarcou o imperador às pressas para a Europa e entregou o país, ao amanhecer, a um regime improvisado entre intelectuais de mesa de café na rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.

A história costuma vestir esse episódio com verniz patriótico, mas basta olhar sem fantasia para ver a farsa. A monarquia, com todos os seus limites e contradições, era constitucional, tinha respaldo popular e garantia uma estabilidade que o Brasil nunca mais encontrou. A república que nasceu ali foi capenga desde o berço e, de certa forma, carrega até hoje a marca do improviso e da tutela militar. Nada mais brasileiro do que um golpe inaugurando um regime que se dizia moderno.

Ser republicano não me exige negar esse passado. Pelo contrário, exige encará-lo sem medo. Acreditar no regime republicano não significa fingir que a sua origem não foi um atentado contra o próprio ideal que ele diz representar. A república no Brasil nunca conseguiu se realizar por inteiro. Viveu sob suspeitas, aventuras golpistas, rupturas sucessivas, delírios autoritários e escândalos que se repetem como um disco arranhado. Quando olho para mais de um século de história, vejo um país tentando ser república sem nunca ter enfrentado seu trauma de nascimento.

É por isso que, para mim, o dia 15 de novembro não é referência. É um lembrete incômodo de como começamos errado e de como seguimos pagando o preço. Um dia forjado na sombra de um quartel, vendido como libertação, mas marcado pela ausência do povo e pela presença da força.

E é justamente por ironia, e talvez por justiça poética, que hoje eu saúdo quem foi derrubado sem que ninguém o tivesse rejeitado. Viva Dom Pedro II.


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