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Porquinho-da-Índia [Manuel Bandeira]
O poema parece infantil, mas como todo gesto de Bandeira, engana pela superfície. A narrativa simples, quase falada, traz a memória de um afeto inaugural: o porquinho-da-índia como emblema da primeira frustração amorosa. O poeta recria a cena da infância com aquele tom de conversa ao pé da mesa, entregando um mundo onde a ternura encontra o limite do outro. O animal que insiste em se esconder debaixo do fogão vira metáfora de todo amor que não corresponde, todo desejo que não encontra eco. O humor leve amortece a dor, mas não a elimina. Bandeira sabe transformar mágoa em música cotidiana.
A graça é que a imagem é humilde, quase boba, e justamente por isso funciona. O menino oferece “lugares bonitos, limpinhos”, tenta conduzir, agradar, seduzir, mas o outro permanece onde quer estar. Essa assimetria funda uma espécie de educação sentimental precoce. O eu poético descobre que o amor não obedece à lógica da intenção, que há uma liberdade inquebrantável no objeto amado. Benevolente e resignado, ele aprende cedo que nenhum carinho garante permanência. O riso, aqui, é uma forma de sobreviver ao desalento.
A conclusão é um golpe manso, típico de Bandeira. Dizer que o porquinho-da-índia foi sua “primeira namorada” não é só ironia; é um gesto de humanidade profunda. É assumir que o amor nasce do descompasso, que a ternura brota mesmo quando não é acolhida, e que o coração infantil já carregava a vocação da perda. O poema, com sua aparência mínima, abre uma janela para o modo como aprendemos a desejar e a aceitar o outro. Nesse pequeno bicho fujão, Bandeira encontra o retrato de todas as relações humanas: a busca, o desvio, o apego, a liberdade e o afeto que permanece mesmo quando não pode ser correspondido. É a infância ensinando o que a vida inteira confirmaria.
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