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Charles Bukowski: Resistência e Amor

Eu Sinto Muito!






Sentir demais é como viver com a pele aberta. À primeira vista parece um dom raro, quase uma graça secreta. Mas quem carrega essa intensidade sabe que há um preço silencioso. É bonito perceber nuances, captar gestos mínimos, ouvir o que não foi dito. Só que essa mesma delicadeza se transforma em exaustão quando o mundo opera em outra frequência. O olhar atento vira peso. O coração vigilante vira fadiga. A alma, que deveria ser abrigo, vira campo de batalha.

O lado sombrio de sentir demais mora nesse. Cada palavra ganha contorno, cada ausência parece sinal, cada vibração do ambiente toca fundo sem pedir permissão. É como entrar em todas as histórias, mesmo quando só quer ficar de fora. Ser sensível demais é notar rachaduras antes que elas apareçam, pressentir despedidas no meio de um abraço, reconhecer desalentos escondidos atrás de sorrisos educados. É conviver com a verdade crua, mesmo quando ela seria mais suportável se viesse diluída.

No fundo, sentir demais não é fraqueza. É intensidade sem proteção. É continuar aberto quando tudo sugeriria fechar. É insistir na ternura em um mundo que recompensa indiferenças. Só que essa insistência cobra seu tributo. O calor humano que você entrega volta morno. A escuta que você oferece raramente encontra eco. A disponibilidade pessoal com que você toca a vida dos outros quase nunca é compreendida na mesma medida.

E talvez o lado escuro de sentir demais esteja justamente aí. Não é a dor em si, nem a vulnerabilidade, nem essa espécie de radar emocional sempre ligado. O que pesa é a solidão bem familiar de perceber que quase ninguém sente com a mesma profundidade. E mesmo assim, continuar sentindo. Porque, no fim, é a única forma que o coração conhece de existir.

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