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Charles Bukowski: Resistência e Amor

Darwin no Brasil

Os relatos de Darwin no Brasil são um soco histórico que continua ecoando. Ele não descreve apenas cenas isoladas de violência; ele percebe a lógica inteira de uma sociedade construída sobre a naturalização da brutalidade. A frase sobre o Recife, “terra de escravidão, portanto de decrepitude moral”, não é exagero retórico. É diagnóstico. É constatação de um estrangeiro que, ao pisar aqui, enxergou aquilo que a elite local fingia não ver.

O episódio da escrava que se atira do precipício resume o absurdo ético daquele mundo. Um gesto de desespero que seria celebrado como heroísmo se praticado por uma dama romana vira “brutalidade” quando parte de uma mulher negra. Darwin flagra o racismo estrutural antes mesmo da invenção do termo, com a clareza fria de quem observa sem estar contaminado pelo costume.

E o que mais impressiona é a cicatriz deixada nele. Quando escreve que ainda treme ao ouvir um grito na madrugada, está dizendo que o Brasil lhe entrou nos ossos, como uma memória que não se apaga. Séculos depois, o país ainda convive com resquícios dessa mesma lógica: a desumanização rotinizada, a indiferença, a banalização do sofrimento.

Trazer Darwin hoje não é nostalgia erudita; é gesto político. Ele mostra que a violência nunca foi “folclore”, nunca foi “costume”, nunca foi “branda” como insistiram narrativas interessadas. Foi violência crua, explícita e registrada nos diários de um dos maiores cientistas da história.

Relembrar isso é rasgar o véu das versões açucaradas e expor o que realmente fomos. E, em alguma medida, ainda somos.

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