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Américo Vespúcio: um "Forest Gump" que deu certo?

A história é boa demais para eu deixar passar. E, claro, ela tem gosto de Brasil, vaidade renascentista e um toque generoso daquele tempero que hoje chamaríamos de maquiagem narrativa, séculos antes de alguém inventar o termo fake news.

A América não se chama Colômbia por um motivo bem simples: eu vi Américo Vespúcio ganhar a disputa do enredo. Ele venceu porque escreveu melhor, publicou mais rápido e, acima de tudo, porque conseguiu convencer a Europa inteira de que tinha topado com algo inédito, não as margens orientais da Ásia, como Colombo acreditou até o último suspiro.

É aqui que a trama vira. Colombo morreu jurando ter chegado à Ásia. Era obstinado pela rota alternativa para o Oriente. Nunca se assumiu descobridor de um novo continente porque essa possibilidade nem atravessava sua cabeça. Já Vespúcio tinha outro espírito. Mais elegante, mais rico, mais esperto no jogo da vaidade e um observador finíssimo. No litoral do Brasil, ele percebeu o óbvio que ninguém estava vendo: aquele pedaço imenso de terra não batia com nenhum mapa antigo. O quebra-cabeça não fechava. Então ele escreveu cartas saborosas, cheias de cor, detalhe, invenção e um ego que atravessava o Atlântico. As cartas rodaram as prensas com a velocidade de um boato bom.

Em 1507, dois cartógrafos alemães, Martin Waldseemüller e Matthias Ringmann, leram as tais cartas, ficaram animados e decidiram batizar o continente. Se era um mundo novo, que levasse o nome do homem que o descrevera como tal. Latinizaram tudo: Americus virou America. E pronto. O nome grudou nas paredes da história. Colombo acabou relegado ao rodapé, especialmente porque insistiu até o fim que não tinha descoberto nada novo. Quem não conta sua versão deixa que outro ocupe o palco.

E aí vem a ironia que eu adoro: parte das cartas atribuídas a Vespúcio talvez nem tenha sido escrita por ele. Ou foi inflada. Ou maquiada. O sujeito acabou virando o primeiro influencer global sem querer, misturando fatos, meias verdades e um faro certeiro para espetáculo. Pós-modernismo antes da hora. "Fake News" em pergaminho. E o Brasil recém avistado virou o cenário central da virada narrativa, porque foi aqui que ele percebeu a novidade geográfica que mudou o mundo e rebatizou o próprio mundo.

A América não se chama Colômbia porque história não funciona como planilha justa. História é impressão tipográfica, tempo de reação e alguém com uma boa história para contar. Vespúcio contou. E convenceu.

 

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