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Adiamento, poema de Álvaro de Campos Heterônimo de Fernando Pessoa
ADIAMENTO,
Poema de ADIAMENTO,
Poema de Álvaro de Campos
Heterônimo de Fernando Pessoa
Adiamento é a confissão mais desarmada do tédio essencial que atravessa Álvaro de Campos. O poema expõe o sujeito diante de uma espécie de espera infinita, uma espera que não leva a lugar nenhum, mas que se mantém como o único motor possível da existência. Campos não lamenta apenas aquilo que não alcançou. Lamenta o fato de ter consciência de que nada do que poderia alcançar seria suficiente. O poema se constrói no entrelugar da expectativa e do cansaço, onde o desejo é sempre adiado porque o próprio desejo é maior que qualquer realização concreta. Ele sabe que não chegará, e mesmo assim continua a esperar, num movimento quase litúrgico da frustração moderna.
A força do poema reside na habilidade de transformar esse mal-estar em linguagem ritmada e quase hipnótica. Campos desdobra o eu lírico como quem vira do avesso o próprio espírito. Em vez de buscar explicação, ele mostra o absurdo cotidiano que se repete no gesto de esperar por algo que nunca virá. O poema se ilumina quando reconhece que o adiamento não é acidente da vida, mas seu núcleo duro. O que movimenta o sujeito não é o acontecimento, mas sua ausência, e esse vazio se torna paradoxalmente fértil. Há aqui uma verdade amarga da modernidade: a vida se organiza mais sobre promessas do que sobre realizações, e a poesia de Campos traduz isso com precisão desconcertante.
No fim, Adiamento é um espelho inquieto. Ele devolve ao leitor a sensação de que vivemos todos entre o impulso e a desistência, presos à engrenagem de uma esperança que não se cumpre e que talvez nunca pretenda se cumprir. A grandeza do poema é assumir essa falha como condição humana. Campos não oferece saída, nem quer oferecer. O poema se fecha como um ciclo que retorna ao início, reafirmando que a espera é o próprio destino. A poesia se torna um gesto de lucidez diante da inutilidade e, por isso mesmo, um ato de coragem.
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