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Charles Bukowski: Resistência e Amor

Traço da Minha Essência - Confissão


Desde cedo, a vida me trouxe uma precocidade que moldou meu modo de estar no mundo. A consciência chegou antes do tempo, e isso fez com que as relações fossem sempre mais seletivas e profundas. Tive amizades marcadas por privacidade intelectual, por conversas que se estenderam naturalmente e por um gosto compartilhado pela reflexão. Com o passar dos anos, essa característica se acentuou, e percebi agora que ela não era apenas traço de juventude, mas parte essencial da minha natureza.

Nos últimos tempos, a vida se transformou. Perdi amigos próximos nos últimos dois anos, surpreendentemente em intervalos quase trimestrais. Deixaram silêncio e mudança. Freud não fala exatamente em meia-idade, mas descreve o momento em que o indivíduo regular seus limites e passa a se relacionar com o tempo de forma mais lúcida. É uma transição avançada, mas também fértil, pois nos aproximamos do que é mais essencial.

O grupo de amigos com quem eu compartilhava conversas longas e prazerosas se tornaram menores. Muitos seguiram seus caminhos, alguns mais velhos se instalaram na própria vida interior. Sinto falta desses encontros sem pressa, das trocas leves e inteligentes, da convivência que não oferece nada além da presença.

Hoje caminho pelos “quarenta e alguns” com a sensação de que há espaços ainda a preencher, mas sem angústia. Há um certo sossego em reconhecer que as profundezas verdadeiras são raras e que cada ciclo traz novas possibilidades de encontro.

No silêncio da minha vida interior intensa, recolho-me com serenidade. E talvez seja justamente meu silêncio que ressoe o convite para “procurar turma”, como se dizia em tom irônico, quando eu era adolescente, aos precoces em meio aos mais experientes. Não por nostalgia, mas por camadas vivas, por vontade sincera de continuar conversando sobre o que realmente importa.

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