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A Janela de Overton, o Impensável e o Comum
Há duas décadas, muitas das ideias que hoje dominam o debate público seriam tratadas como piadas ou delírios ideológicos. Mas o que antes provocava riso, indignação ou censura agora é discutido seriamente em universidades, jornais e parlamentos. A impressão é de que a sociedade muda de opinião de forma espontânea, como se fosse um processo natural, sem direção nem plano. Só que não é bem assim.
Existe um mecanismo previsível, quase matemático, por trás dessa transformação: a chamada Janela de Overton. Criado pelo pesquisador Joseph Overton, o modelo explica como uma ideia pode atravessar o caminho que vai do absurdo até a lei. O conceito é simples e desconcertante. Imagine uma janela que se move por uma escala de ideias, do impensável ao popular. Tudo o que está dentro dessa janela é considerado aceitável, discutível, possível. O que está fora é tabu. E o jogo do poder é mover essa janela.
O que Overton mostrou é que os políticos não lideram a opinião pública, eles reagem a ela. Quem molda o campo do possível são aqueles que empurram as fronteiras do aceitável: intelectuais, ativistas, artistas, think tanks e, sobretudo, a mídia. O truque é mudar o que se discute, e não o que se decide. Primeiro, uma ideia absurda é apresentada por pequenos grupos e tratada com repulsa. Depois, vira tema de debate acadêmico. Em seguida, aparece como solução racional para um problema real. Quando o público se acostuma, a ideia ganha simpatia, apoio e, finalmente, torna-se política pública.
Foi assim com o voto feminino, com o divórcio, com direitos civis e com praticamente toda grande transformação social. Nenhuma ideia nasce popular. Ela é trabalhada, polida, dramatizada e, acima de tudo, repetida. A repetição quebra o choque. A familiaridade destrói o tabu. Quando a mídia se encarrega de mostrar a proposta sob luz mais humana e a cultura popular transforma o conceito em narrativa emocional, o terreno está pronto. O extraordinário já parece comum.
A genialidade e o perigo da Janela de Overton estão aí. O processo pode servir tanto ao avanço civilizatório quanto à manipulação de massas. Quem domina esse método não precisa impor nada pela força; basta ajustar o horizonte do aceitável. Muda-se a moldura e o quadro inteiro ganha outro sentido.
Por isso, entender a Janela de Overton é um ato de lucidez política. É perceber que a opinião pública não é uma força caótica, mas uma engrenagem afinada, movida por interesses, estratégias e narrativas. A questão que fica é: quem está movendo a janela hoje? E mais importante, para qual direção?
Saber disso não é ceticismo. É consciência. Porque quem ignora o manual invisível das ideias, mais cedo ou mais tarde, acaba vivendo dentro dele.
Saulo Carvalho
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