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A Alegoria de Russell
A chamada alegoria de Bertrand Russell é frequentemente evocada para ilustrar o princípio da relatividade da percepção e das interpretações humanas sobre a realidade. O filósofo e matemático britânico, um dos pensadores mais influentes do século XX, dedicou parte significativa de sua obra à análise da linguagem, da lógica e das formas pelas quais o conhecimento é construído a partir da experiência sensorial e do pensamento racional. Seu esforço intelectual visava demonstrar que o que chamamos de “real” depende não apenas dos fatos objetivos, mas também da maneira como o sujeito os observa, os descreve e os interpreta.
Em The Problems of Philosophy (1912), Russell distingue entre o que chama de “appearance” e “reality”, sustentando que “a mesa que vemos não é a mesa real, mas apenas o aspecto que ela assume sob certas condições de luz e posição do observador”. Para ele, aquilo que percebemos é um conjunto de “sense-data”, dados sensoriais que mediam o contato entre o sujeito e o mundo. O problema filosófico central, portanto, não está na existência da realidade em si, mas na forma como ela se manifesta à consciência. Essa distinção entre aparência e realidade antecipa a reflexão posterior sobre os limites do conhecimento empírico.
Ao discutir a relatividade da percepção, Russell recorre a exemplos e alegorias que evidenciam a distância entre a aparência e a essência dos fenômenos. Ele observa que duas pessoas podem descrever o mesmo objeto de modos distintos quanto à cor, à forma ou à textura, sem que qualquer uma delas esteja equivocada. Essa divergência não revela erro de percepção, mas a influência inevitável de fatores subjetivos, culturais e contextuais sobre o modo como cada indivíduo apreende o mundo.
Em Our Knowledge of the External World (1914), Russell aprofunda a tese de que o conhecimento nasce da inferência lógica sobre os dados sensoriais e não da apreensão direta do real. Escreve: “O mundo físico é uma construção lógica a partir dos dados dos sentidos”. Essa proposição torna explícito seu projeto de reduzir o conhecimento empírico a uma base racional e verificável, integrando a epistemologia à lógica formal.
A alegoria de Russell, portanto, ressalta as limitações dos sentidos e da linguagem diante da complexidade do real. Compreender algo exige admitir que toda observação é mediada por uma perspectiva. Essa ideia seria mais tarde retomada por filósofos da linguagem e da ciência, como Wittgenstein e Quine, ao demonstrarem a impossibilidade de uma descrição completamente neutra do mundo.
A reflexão de Russell mantém-se atual por dialogar com campos como a psicologia, as ciências cognitivas e a teoria da comunicação. Ela propõe uma forma de tolerância intelectual e convida ao reconhecimento da pluralidade de visões, lembrando que a busca pela verdade não se opõe à diversidade das percepções humanas, mas se enriquece por meio delas.
Saulo Carvalho
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