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Nem Triunfo. Nem Confissão
Nem tudo o que escrevo é sobre mim. Nem toda tristeza é confissão. Nem toda alegria é triunfo. Escrever é, muitas vezes, um impulso para explorar e pensar com liberdade. É lançar palavras ao mundo e observar o que elas provocam. É oferecer um espaço onde o leitor possa sentir, abstrair e reinterpretar.
Recebo, vez por outra, mensagens de pessoas amigas ou conhecidas que não vejo há muito tempo. Perguntas como “Está tudo bem?” ou “Aconteceu alguma coisa?” chegam após textos ou notícias que apenas publiquei, mesmo quando nada têm a ver comigo. É curioso como o leitor transforma o que lê em experiência própria. Ele não apenas consome fatos: projeta sua própria vida, inquietações e expectativas.
Harold Bloom, genial, nos lembra que “ler é enfrentar a solidão do outro dentro de si mesmo”. Cada artigo, cada opinião ou cada notícia publicada torna-se um espaço de introspecção. O leitor não lê apenas para compreender; lê para dialogar. A notícia deixa de ser mero relato e se transforma em experiência pessoal, um território onde realidade e imaginação se fundem, e onde cada leitor constrói sentidos diferentes. É nesse encontro entre palavra e percepção que se forma a verdadeira força da leitura.
Ao escrever, lembro quase sempre de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.” Vejo nesses versos uma escultura subjetiva erguida com a “areia de fingir” (areia de construir, areia de acabamento, em Portugal), matéria frágil e fértil da poesia. O poeta, então, é também um construtor, um escultor da palavra. Particularmente, escrevo muito mais por provocação estética do que por confissão. É aí que nem toda dor é revelação. Nem todo sorriso é conquista.
O gosto pela leitura está em perceber esses mundos. Está em sentir novas emoções. Está em ressignificar o que acreditávamos conhecer. Ler transforma e amplia. Cada leitor completa o texto com sua própria inteligência, como lembra Umberto Eco, e, nesse processo, a obra se desdobra em múltiplas obras.
Vivemos tempos de literalidade. Notícias, textos e mensagens são consumidos com pressa. As palavras, muitas vezes, perdem sua densidade e se tornam sinais diretos, quase sem espaço para a interpretação. A rapidez da informação não permite a introspecção, e a experiência do leitor se esvai na urgência de consumir. É justamente nesse instante que a leitura profunda e a escrita criativa ganham valor. Elas desafiam a literalidade, convidam ao pensar e resgatam a dimensão humana.
Escrever e ler são atos de resistência. É reconhecer que nem tudo será aceito como veio e, ainda assim, alinhar palavras ao julgamento público. É confiar que algo do que produzimos encontrará eco. E é nesse eco que está a recompensa.
A boa leitura se completa quando o leitor transforma o texto em experiência pessoal e, por um instante, compartilha algo de seu e dá espaço à conexão abstrata.
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